Alguns preferem chamar de poder de convencimento. Particularmente não gosto desta expressão porque a palavra poder remete a algo sobrenatural, a algo especial, parecendo ser uma característica reservada para poucos. Do tipo: ou você nasceu com o poder (dom), ou estará perdido para sempre.
Acredito na capacidade de convencimento , um conjunto de soft skills que qualquer advogado(a) pode (na realidade, precisa) desenvolver desde o início de sua carreira profissional para obter sucesso.
Uma especialização ou mestrado é importante. Uma boa presença na internet é importante. Uma apresentação profissional adequada é importante. Mas o que é realmente fundamental é a capacidade de convencimento, a maior arma que o advogado(a) possui para triunfar.
Não estamos aqui falando da cena clássica do júri onde o advogado, com seus truques linguísticos e retórica impecável, consegue convencer os jurados, ali na “hora h“, da inocência de seu cliente. Isso também faz parte, mas é reservado a uma parcela pequena da advocacia que se dedica ao tribunal do júri.
A capacidade de convencimento é algo que está presente em absolutamente todas as etapas da vida de qualquer profissional da advocacia. Sendo ainda mais específico: está presente diariamente na vida do(a) advogado(a).
Quer alguns exemplos simples? Você precisa convencer o potencial cliente a te contratar. Você precisa convencer o juiz de que seu cliente tem razão. Você precisa convencer a parte contrária que o acordo proposto é a melhor opção. E por aí vai.
Ou seja, treinar sua capacidade de convencimento é a melhor maneira de se manter vivo nesse concorrido mercado da advocacia.
Tá ok, mas o que seria na prática a capacidade de convencimento? Trata-se de um conjunto de 3 soft skills que explicamos a seguir.
1. Conhecimento profundo do caso e do direito.
É fundamental que você conheça profundamente o caso de seu cliente, desde o histórico, as provas, suas fragilidades e os pontos fortes. Advogado que não se prepara previamente não consegue convencer ninguém. Isso vale para a petição inicial, para a audiência de instrução ou para a sustentação oral no plenário do Supremo Tribunal Federal.
Também é fundamental conhecer o direito aplicado ao caso em concreto, não apenas a lei em si mas principalmente qual a interpretação jurisprudencial a respeito do tema. Sempre focando na jurisprudência dos tribunais superiores, porque pouco adianta citar um acórdão isolado de determinado Tribunal de Justiça para defender sua tese. Principalmente quando os tribunais superiores tem entendimento consolidado de forma contrária, aí sim é pura perda de tempo citar acórdãos isolados que enfraquecerão sua capacidade de convencimento.
2. Racionalidade na escolha das batalhas
Um processo é composto por uma série de pequenas batalhas, pequenas discussões, pequenos entraves, sejam eles fáticos ou processuais. É necessário racionalidade na escolha das batalhas que valem à pena. É óbvio que você não irá ganhar todas e, por isso, é preciso reconhecer onde focar sua energia (física e processualmente falando).
Sua capacidade de convencimento, ao despachar com o magistrado ou na audiência de instrução, é inversamente proporcional à quantidade de tópicos/teses que você defende. Os americanos tem uma expressão que é maravilhosa que diz “aim small, miss small” que significa algo como “mire pequeno, erro pequeno.”
Por exemplo, se você sabe que determinado ponto será perdido (seja pelo contexto probatório ou jurisprudencial) não insista nele. Mire o próximo!
3. Objetividade extrema na exposição dos argumentos
Foi-se o tempo em que citações em latim ou petições contendo centenas de lauda eram relevantes. Na verdade, cá entre nós, este tempo nunca existiu.
É fundamental que você tenha a capacidade de expor de forma extremamente objetiva seus argumentos em qualquer momento do processo. Seja quando usa a palavra escrita (petições) ou a oral (audiências, despachos com magistrados).
Tenha orgulho de montar uma petição inicial em 3 páginas! De não precisar usar todo o tempo da sustentação oral. De fazer apenas 2 perguntas cirúrgicas para a testemunha na audiência.
Como vimos, são apenas de 3 softs skills fáceis de serem praticadas e aprimoradas por você. Não é preciso nenhum super poder natural ou dom de nascença para usar em seu favor a maior arma que a advocacia dispõe: a capacidade de convencimento.